Esta Unidade de Conservação foi criada em 1974 com objetivo de proteger o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) e abriga uma enorme riqueza de espécies associadas a diversos ecossistemas. O clima da região é classificado como Aw (Köppen) com precipitação média anual de 1.900mm, bem distribuída ao longo do ano e uma pequena estação seca entre os meses de maio a agosto (Lima et al. 2006). Os solos predominantes são latossolos vermelho amarelos e solos aluviais (Takizawa 1995). Originalmente a ReBio era coberta pela Floresta Ombrófila Densa de terras baixas (Veloso et al. 1991) com formações permanentemente ou periodicamente alagadas, além de florestas sem influência pluvial localizadas nos morros e morrotes mamelonares. No entanto, com a ocupação da região, extensas áreas de floresta foram desmatadas e substituídas por pastagens e outras culturas agrícolas. Resultante deste processo, a vegetação da ReBio atualmente é formada por um grande mosaico composto desde pastagens abandonadas, formações secundárias e florestas em estágio avançado de sucessão. O estudo realizado por Lima et al. (2006) demonstra que apenas 52% dos 5.160 hectares da ReBio estão cobertos por florestas, sendo todo restante formado por áreas com maior ou menor grau de perturbação (Figura 8).
O Programa Mata Atlântica (JBRJ) vem desenvolvendo pesquisas no local desde do início da década de 90. As coletas botânicas constituíram as primeiras incursões à área e proporcionaram o enriquecimento das coleções e a elaboração de uma extensa lista de espécies (disponível em: www.jbrj.gov.br). Posteriormente foram realizados levantamentos fitossociológicos (Neves 1999; Guedes-Bruni et al. 2006a: 2006b; Pessoa & Oliveira 2006) e estudos ecológicos relacionados à estrutura e funcionamento de populações e comunidades (Scarano et al. 1997; Callado et al. 2001). Diante do conhecimento adquirido com as pesquisas e do cenário de degradação da ReBio, foi criado em 1994 o Projeto Revegetação. O projeto busca o desenvolvimento de modelos de restauração ecológica, criados a partir do plantio de espécies nativas, com objetivo de restaurar as áreas degradadas (Moraes & Pereira 2003; Moraes et al. 2006).
Figura 8. Vista geral das pastagens abandonadas na Reserva Biológica Poço das Antas, Rio de Janeiro (Fonte: Programa Mata Atlântica - JBRJ).
A partir de 2005 o Programa Mata Atlântica buscou integrar a experiência obtida através dos vários anos de pesquisa ao acompanhamento da dinâmica das comunidades vegetais no tempo e no espaço. O projeto vem então implantando parcelas permanentes em áreas abandonadas com regeneração natural (15 e 30 anos de abandono), florestas em estágio avançado de sucessão, assim como nos plantios mistos com espécies arbóreas estabelecidos em 1993.
O inventário da vegetação teve início com o estabelecimento de 102 parcelas permanentes, distribuídas em 6 formações, pertencentes a 4 estágios sucessionais. O histórico e a idade de cada área foram determinados a partir da interpretação de fotografias aéreas e entrevistas com antigos moradores da área.
Caracterização das áreas estudadas:
- Plantio na várzea (Pv): plantios experimentais realizados em áreas de várzea com espécies arbóreas típicas dessa formação. Os plantios foram implantados entre os anos de 1994 a 1996 com objetivo de restaurar áreas perturbadas ocupadas por gramíneas exóticas (Panicum maximum e Brachiaria mutica).
- Plantio no morrote (Pm): plantios de espécies arbóreas implantados em áreas de morrote ocupadas no passado por pastagens (Melinis minutiflora). Os plantios foram implantados na mesma época dos plantios na várzea.
- Floresta secundária (15 anos): essas áreas eram manejadas para pastagens, mas com criação da ReBio no ano 1974 o sítio foi abandonado. Em 1990, a área foi afetada por um incêndio florestal e por isso foi denominada “área com 15 anos”. A vegetação arbórea possui baixa diversidade com dominância de Gochnatia polymorpha.
- Floresta secundária (30 anos): essa área possui o mesmo histórico de uso e abandono da área com 15 anos, porém não há registros de incêndios florestais após a criação da reserva. As espécies mais comuns são Gochnatia polymorpha, Miconia cinnamomifolia, Tapirira guianensis e Xylopia sericea.
- Floresta de morrote (Fm): floresta em estágio avançado que ocupa as encostas dos morros e morrotes mamelonares.
- Floresta de várzea (Fv): floresta contínua com baixo nível de perturbação antrópica localizada em várzeas sujeitas a inundações apenas nos períodos de maior precipitação.
O estudo da vegetação arbórea (DAP ≥ 5cm) vem sendo realizado em parcelas de 100m2 (10m x 10m), No interior destas parcelas, foram alocadas sub-parcelas 25m2 (5m x 5m), para o estudo da regeneração natural (1cm ≤ DAP < 5cm) (Figura 9). Todos os indivíduos amostrados tiveram o DAP e altura medidos, sendo posteriormente realizada a coleta do material para identificação. Em cada área são analisados parâmetros relacionados à estrutura (diâmetro, altura, densidade, área basal, mortalidade e recrutamento), composição e diversidade de espécies (riqueza, índice de diversidade e similaridade florística), além de variáveis ambientais relacionadas à declividade do terreno, índice de área foliar, abertura do dossel e características químicas e físicas do solo nas seguintes profundidades: 0-5; 5-10; 10-20 e 20-40cm.
Figura 9. Esquema das parcelas utilizadas no inventário da vegetação arbórea (DAP ≥ 5cm – parcelas 10m x 10m) e a regeneração natural (DAP: 1cm – 4,9 cm – parcelas 5m x 5m) na ReBio Poço das Antas, Rio de Janeiro.
Após a fase de estruturação do projeto, onde houve a implementação dos plantios, teve início a etapa onde se busca compreender os principais processos ecológicos e fatores que controlam a regeneração natural localmente. O conhecimento gerado pode inclusive auxiliar na compreensão dos processos observados em florestas tropicais (ver revisão Guariguata & Ostertag 2001). Neste sentido, as transformações da paisagem e degradação dos ecossistemas tornaram o entendimento da sucessão ecológica ainda mais complexo, uma vez que os padrões observados em uma área, em geral, não podem ser extrapolados em escala. Estudos recentes têm revelado que áreas submetidas à perturbação antrópica possuem fortes barreiras para regeneração natural (Aide & Cavalier 1994; Holl 1999). As barreiras podem estar associadas a fatores abióticos (Denslow & Guzman 2000), bióticos (Guariguata & Ostertag 2001) e históricos (Uhl 1987; Marcano-Vega et al. 2002; Colón 2006). Esses fatores podem atuar tanto de maneira isolada como integrados, tornando a re-colonização ainda mais lenta. Nesses casos, técnicas de restauração ecológica vêm sendo empregadas na busca da recuperação da estrutura e função da comunidade (Nepstad et al. 1990; Parrota 1993: 1995: 1999; Lamb et al. 1997).
Os resultados obtidos até o momento corroboram os padrões encontrados em outras regiões neotropicais (Finegan 1996). As florestas secundárias com 30 anos apresentaram a maior densidade de indivíduos arbóreos (DAP ≥ 5cm), o que é esperado em estágios iniciais de sucessão (Guariguata & Ostertag 2001) (Figura 10). A área basal mostrou uma forte correlação positiva com a idade dos sítios, com a floresta de morrote atingindo os maiores valores (Figura 10).
A maior variação entre os sítios ocorreu na estrutura da regeneração natural (1cm ≤ DAP < 5cm). Os baixos valores observados para a floresta secundária com 15 anos e no plantio no morrote indicam que, mesmo em locais com uma cobertura arbórea estabelecida, as barreiras para a regeneração natural podem ainda estar presentes (Sansevero et al. dados não publicados). Os dois plantios com espécies arbóreas apresentaram diferenças acentuadas em relação à estrutura. A baixa densidade e área basal encontradas no plantio no morrote foram facilmente superadas pelo plantio na várzea. O plantio na várzea demonstrou uma grande capacidade de reestruturação da comunidade florestal, ultrapassando em área basal as florestas secundárias com 15 e 30 anos.
Figura 10. Densidade (A), área basal (B) e distribuição diamétrica (C) nas áreas em diferentes estágios sucessionais na Reserva Biológica Poço das Antas, Rio de Janeiro. (Pv) Plantio na várzea; (Pm) Plantio no morrote; (15) 15 anos após o fogo; (30) 30 anos de abandono; (Fm) Floresta de morrote e (Fv) Floresta de várzea.
Através da análise da estrutura, composição e dinâmica, integrada às variáveis ambientais, o projeto vem buscando obtenção de padrões consistentes sobre as principais mudanças estruturais e funcionais nas comunidades, uma vez que tais padrões são fundamentais para a elaboração de propostas de conservação, assim como para a definição de estratégias de manejo e restauração ecológica da Reserva Biológica Poço das Antas.
“Bibliografia em preparação” e “Mapa de Visualização das Áreas” (Google Professional)
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