Esta Unidade de Conservação federal foi criada em 1989 pelo decreto n 97.780 e apresenta um dos maiores e mais preservados remanescentes de Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro. Engloba parte dos municípios de Nova Iguaçu (55,14%), Duque de Caxias (37,44%), Petrópolis (4,26%) e Miguel Pereira (3,16%), totalizando uma área de 26.000ha com 150km de perímetro (IBAMA 2007). Seu bom estado de preservação se deve principalmente à presença de nascentes que abastecem o sistema de águas do Estado, correspondendo atualmente a uma das únicas porções ainda florestadas da Baixada Fluminense (Relatório JBRJ 2002). Logo, trata-se de uma Unidade de Conservação estratégica tanto sob o ponto de vista da sua importância socioeconômica, quanto do ponto de vista ecológico.
O clima na Reserva Biológica do Tinguá é predominantemente quente e úmido com estação seca pouco definida nos meses de julho e agosto, correspondendo ao tipo Am segundo a classificação de Köppen. A temperatura média anual está em torno de 21°C podendo ocorrer grande variação ao longo do ano, desde 7°C nos meses mais frios (junho e julho) até 40°C nos meses mais quentes (janeiro e fevereiro). A precipitação anual é de 2.099mm, sendo dezembro e janeiro os meses mais chuvosos e julho e agosto os meses mais secos (Rodrigues 1996). O relevo, de uma forma geral, é bastante acidentado com escarpas sulcadas por rios torrenciais. Destaca-se topograficamente na escarpa da Serra do Mar o Maciço do Tinguá, que consiste em uma unidade montanhosa imponente, bastante elevada alcançando 1.600m de altitude (IBAMA 2007). Os solos são do tipo cambissolos, latossolos e podzólicos, freqüentemente associados entre si e a solos litólicos com afloramentos de rochas. Dominam os solos podzólicos originados a partir de rochas granítico-gnáissicas do Pré-Cambriano (Rodrigues 1996).
A classificação fitogeográfica da ReBio é Floresta Ombrófila Densa (IBGE 1992), ou Floresta Pluvial Tropical (Rizzini 1997). Na caracterização fisionômico-florística desta cobertura vegetal, utilizando a terminologia empregada por Veloso et al. (1991), foram reconhecidas as quatro formações: Floresta Submontana; Floresta Montana, Floresta Altomontana e Campos de Altitude (Relatório técnico JBRJ 2002). As famílias de espécies arbóreas melhor representadas na Reserva Biológica do Tinguá são Rubiaceae, Fabaceae, Myrtaceae e Lauraceae (Braz et al. 2004).
Em contraste com o alto nível de conservação, é possível observar algumas atividades conflitantes dentro dos limites da ReBio, como a exploração de palmito (Euterpe edulis Mart.), a ação constante de caçadores e a visitação intensa da população que busca a reserva como área de lazer, principalmente nas áreas de mananciais hídricos.
Outro aspecto importante desta Unidade de Conservação se deve ao fato de que esta é atravessada por dois dutos subterrâneos da Petrobras, denominados ORBEL1 e ORBEL2 (Oleodutos Rio-Belo Horizonte 1 e 2, respectivamente), que transferem produtos da Refinaria de Duque de Caxias para Belo Horizonte. Estes dutos formam faixas desmatadas de cerca de 20 metros de largura. ORBEL1 foi implantado na década de 60 sob uma antiga estrada (Estrada do Comércio) datada do começo do século XIX e, desta forma, constitui uma borda de mata de quase 200 anos. Já ORBEL2, que só foi implantado no início da década de 80, corresponde a uma borda bem mais recente com apenas 30 anos, aproximadamente (Souza 2003) (Figura 6).
A ocorrência destas bordas artificiais, relacionada à atividade de transporte de combustíveis, chamou a atenção para a necessidade de monitoramento da vegetação adjacente aos dutos. Com isso, o JBRJ iniciou em 2002 o projeto “Paisagem e Flora da Reserva Biológica do Tinguá: subsídios ao monitoramento da vegetação”, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que tinha como objetivo principal documentar a diversidade da flora da Mata Atlântica.
Além disso, os possíveis efeitos deletérios que estas aberturas lineares de dossel poderiam estar exercendo sobre a vegetação (“efeitos de borda”) passaram a constituir o foco de uma nova linha de investigação. Assim, as primeiras parcelas permanentes começaram a ser implantadas em 2003 dando início ao sub-projeto “Ecologia de Comunidades Vegetais na Reserva Biológica do Tinguá”, desenvolvido pelo Programa Mata Atlântica, que tinha por objetivo avaliar os efeitos de borda na composição, estrutura e dinâmica da comunidade arbórea local.
Atualmente o projeto conta com 40 parcelas de 10m x 30m, sendo 10 ao longo da borda de ORBEL1, correspondendo a uma área de 0,3ha, 10 parcelas ao longo da borda de ORBEL2 (0,3ha), e 20 parcelas distribuídas no interior florestal (IN) mais preservado (0,6ha) distantes mais de 400m de qualquer borda. As inferências sobre os efeitos de borda são realizadas através de comparações entre as localidades (ORB1, ORB2 e IN).
Todas as parcelas foram marcadas de forma aleatória estratificada (ao longo das aberturas lineares) em locais com fisionomia florestal. Ainda para se obter uma padronização das amostragens, a área amostrada se localizava na faixa altitudinal entre 500 a 1000 metros, caracterizada pela formação de Floresta Montana. Vale mencionar que este tipo florestal ocupa a maior parte da área da Rebio do Tinguá e se encontra em excelente estado de preservação. Esta fisionomia florestal é geralmente muito diversificada, apresentando grande variação estrutural, característica esta, em grande parte influenciada pela rica rede de riachos entrecortando as encostas, pelos diferentes níveis de declividade e pela presença de afloramentos rochosos dispersos em muitos locais. A composição do estrato arbóreo reúne grande riqueza de espécies, tais como Cabralea canjerana, Pseudopiptadenia inaequalis, Croton organensis, Ficus luschnathiana, Cryptocarya moschata, Ocotea schottii, Moldenhawera polysperma, Tibouchina arborea, Pradosia lactescens, Cariniana estrellensis e Cedrela odorata, que se destacam por sua abundância (Relatório técnico JBRJ 2002).
Em cada parcela todas as árvores (indivíduos mortos e vivos) com DAP ≥ 5cm foram marcadas, mensuradas e coletadas para posterior identificação. Todas as parcelas foram georeferenciadas para a confecção de mapas e uma melhor visualização da distribuição das mesmas. A cada ano, nos meses de julho e agosto, todos os indivíduos são remedidos e os novos que atingem o critério de inclusão são incluídos na amostragem como recrutantes. No período de 2003 a 2007 foi inventariado aproximadamente um total de 2800 indivíduos.
No ano de 2007 todas as árvores também foram estimadas quanto à altura e foram colocados dendrômetros nos indivíduos com DAP ≥ 20cm para facilitar e padronizar as medições dos anos seguintes. Alguns parâmetros microclimáticos, tais como luminosidade, vento, umidade e temperatura também estão sendo mensurados de forma a caracterizar o ambiente abiótico. Para isso, estão sendo utilizadas mini-estações microclimáticas além de medidores de LAI (Leaf Área Index) e fotografias com lentes do tipo fish-eye, que auxiliarão na caracterização do ambiente luminoso e da estrutura do dossel. Além disso, a quantificação do estoque de serapilheira e o mapeamento dos indivíduos mortos e caídos nas parcelas contribuirão para um melhor entendimento da estrutura e funcionamento da floresta.
Procurando ainda integrar os demais componentes da floresta ao estudo da dinâmica das árvores da ReBio do Tinguá, em julho de 2005 foi incorporado o estrato inicial de regeneração que compreende as plântulas arbóreas de 1mm ≤ DAS ≤ 10mm (DAS, diâmetro à altura do solo) e até 1m de altura. O desenho amostral adotado foi de plots de 2m x 1m distribuídos de modo aleatório estratificado dentro de cada parcela, totalizando seis plots em cada (Figura 7).
Nos plots, as plântulas foram marcadas e medidas quanto ao diâmetro, altura e número de folhas. Algumas informações qualitativas como indivíduos da espécie Euterpe edulis (palmito) e indivíduos rebrotando foram levantadas de forma a inferir sobre a situação das populações desta espécie ameaçada e sobre o nível de dano físico que a comunidade está submetida.
Estas plântulas vêm sendo monitoradas desde então com uma periodicidade de seis meses de forma a acompanhar os processos de crescimento, mortalidade e recrutamento e detectar, caso exista, uma possível sazonalidade nestes processos. As aferições sobre efeitos de borda serão baseadas nos parâmetros densidade, área basal, estrutura de tamanhos (diâmetro e altura) e densidade de rebrotas, além das taxas anuais de crescimento, mortalidade e recrutamento.
“Bibliografia em preparação” e “Mapa de Visualização das Áreas” (Google Professional)