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  ETNOBOTÂNICA
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          A reconhecida diversidade biológica da Mata Atlântica resulta não só das variáveis ambientais representadas pelo tipo de relevo, altitude, natureza do solo, latitude e longitude como pelo histórico de uso do solo e dos produtos vegetais dela extraídos.
          Ao longo da trajetória evolutiva do homem, os ambientes e as espécies que os ocupavam foram sendo modificados em diferentes escalas. Retirando a vegetação para estabelecer moradias, adornando este espaço para torná-lo mais próximo à natureza, trazendo as sementes para transformá-las em grãos, deixando suas características nômades para se tornar citadino e com o passar das eras, deixar de ser citadino para tornar-se cidadão do mundo e da conservação da diversidade.
          A forma como se deu e se dá a construção dos ambientes naturais, descortinam a forma como se olha o mundo natural. Não há mais espaço para a conservação da diversidade biológica sem que esteja implícita a conservação dos valores culturais a ela relacionados.
          A integração entre ambiente biológico e espaço físico deve valer-se do pensamento do grande geógrafo brasileiro Milton Santos para quem “o espaço territorial não é apenas um substrato material, mas igualmente, uma identidade, um sentimento de pertencer a um dado espaço”. Assim, a Mata Atlântica deixa de ser unicamente um espaço florestal, circunscrito a um local geográfico e passa a ser compreendida como uma identidade, um sentimento de pertencer para as populações que nela habitam e dela vivem.
          A expansão dos núcleos urbanos, bem como a ampliação das áreas agrícolas e exploração madeireira, interferiram e interferem no tamanho e estado de conservação de áreas de Mata Atlântica. 
          Nas décadas de 60 e 70 observou-se um grande fluxo migratório das populações rurais para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida. Hoje, diferentemente do que ocorre na Amazônia, os homens que detêm o conhecimento sobre os recursos biológicos, sejam eles plantas ou animais, encontram-se igualmente em extinção. 
          O Programa Mata Atlântica tem procurado identificar nas unidades de conservação onde atua, os moradores fixados nas circunvizinhanças e resgatar o conhecimento acumulado pelas comunidades rurais ou por mateiros isolados, cujo contacto com pesquisadores de diferentes instituições tem sido a principal forma de manutenção deste elemento cultural, fundamental à conservação e às práticas de uso sustentado, ainda em estado de idealização para o contexto do Rio de Janeiro.


 1. As comunidades rurais da região da Rebio Poço das Antas

          O universo feminino: quintais e família

As mulheres em Gleba Aldeia Velha se caracterizam pelo elevado conhecimento acumulado sobre plantas de uso medicinal, um padrão já identificado por muitos estudos. Na comunidade as mulheres, geralmente, se ocupam, dos serviços domésticos e do manejo de pequenos animais. É delas, ainda, a preocupação com a saúde da família, para quem cultivam, colhem, preparam e ministram os produtos originados das plantas medicinais – sejam eles xaropes, chás, emplastros, entre outros - aos seus familiares.
As plantas medicinais, em sua maioria são ervas ou pequenos arbustos, que crescem espontaneamente ou são cultivadas em hortas domiciliares. A maioria delas é originária de outros países. Seus usos são de amplo conhecimento no Brasil e, muitas delas, vendidas em feiras livres nos grandes centros urbanos.
Dentre aquelas mais empregadas destacam-se: babosa (Aloe vera (L.) Burm. f.), erva-macaé (Leonurus sibiricus L.), pitanga (Eugenia uniflora L.) e gervão-roxo (Starchitarpheta cayennensis (Rich.) Vahl)

Trabalho de beneficiamento da fibra de bananeira para confecção de artesanato 

Frutos de mamão-jacatiá (Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.) utilizados na alimentação
   
  O universo masculino: floresta e madeira

          Os homens apresentam maior intimidade com a floresta pois seu conhecimento concentra-se no uso da madeira como recurso para benfeitorias, tais como: construção de cercas, telhados e ferramentas, e também como combustível para cozimento de alimentos doméstico e torrefação de farinha para comercialização.
          As plantas arbóreas são típicas à Mata Atlântica, tais como: imbiú (Xylopia sericea A. St.-Hil.), pau-tamanco (Tabebuia cassinoides (Lam.) DC.), canela-cedro (Tapirira guianensis Aubl.), jacatirão (Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin), copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.), palmito-doce (Euterpe edulis Mart.) e camará (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera)

 
A intimidade dos homens com a floresta facilitando a obtenção de informação sobre os usos das espécies florestais  


Exemplares de madeira coletados, indicados pelos auxiliares de campo, para posterior  identificação no laboratório e armazenamento na coleção científica



  Na minha cidade tem uma horta medicinal

O município de Casimiro de Abreu (22°28'50"S e 42°12'15"W) localiza-se na parte central costeira da baixada fluminense, distante 128 km da cidade do Rio de Janeiro. Através de iniciativa da Secretaria de Saúde do Município com o concurso do apoio da Petrobrás, foi estabelecida uma horta medicinal para atender a população da cidade.
Nesta horta foram reconhecidas 102 espécies, sendo a grande maioria ervas e pequenos arbustos. O uso medicinal constitui a maior fonte de busca pelos habitantes (85%), seguido pelos usos alimentício e ritualístico.
As plantas medicinais mais empregadas são: babosa (Aloe vera (L.) Burm. f.), erva-macaé (Leonurus sibiricus L.), chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus (Cham. & Schltdl.) Micheli), mil-folhas (Achillea millefolium L.) e colônia (Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt & R.M. Sm.).
Dentre as de uso culinário destacam-se: manjericão (Ocimum basilicum L.), alecrim (Rosmarinus officinalis L.), tomilho (Thymus vulgaris L.) e orégano (Origanum vulgare L.). Outra forma de utilização das plantas cultivadas na horta é o consumo in natura de frutos como: figo (Ficus carica L.), amora (Morus nigra L.) e pitanga (Eugenia uniflora L.).
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 2. Os mateiros da região da Rebio do Tinguá

Os conhecedores locais - identificados por seus elevados conhecimentos sobre trilhas, plantas e animais das áreas naturais – amplamente designados como “mateiros” vêm desempenhando importante papel no auxilio para o desenvolvimento de pesquisas científicas.
No âmbito do Programa Mata Atlântica (PMA), há 20 anos, os raros mateiros encontrados nas regiões de estudo têm sido integrados à equipe de pesquisadores em diversas Unidades de Conservação (UC’s) do estado, entre elas: Reserva Ecológica de Macaé de Cima, Estação Ecológica Estadual do Paraíso, Reserva Biológica de Poço das Antas, Parque Nacional do Itatiaia e, mais recentemente, a Reserva Biológica do Tinguá.
Durante estes anos de pesquisa é patente a dificuldade de encontrar pessoas que tenham conhecimento sobre as florestas e, preocupantemente, é ainda menor o número de jovens que tem interesse neste tipo de conhecimento.
Considerando que grande parte dos mateiros encontra-se na faixa etária entre 60 e 80 anos, tornam-se imperativas ações de resgate deste conhecimento local e, subseqüente, valorização, registro e transmissão deste conhecimento.
Cada mateiro da Mata Atlântica que morre leva consigo uma expressiva enciclopédia sobre a flora e fauna desta floresta.
O estudo realizado em Tinguá possibilitou o registro de 116 espécies identificadas para uso, dentre as quais as árvores são predominantes. As plantas nativas à região constituem a fonte de recurso e dentre as quais podem ser citadas: garapa
(Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr.), cedro (Cedrella odorata L.), copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.),  copaíba-verdadeira (Copaifera trapezifolia Hayne), ipê-cinco-folhas (Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart.), pau-pereira (Geissospermum vellosii Allemão), jatobá (Hymenaea courbaril L.), esperta-roxa (Malouetia arborea (Vell.) Miers), óleo-pardo (Myrocarpus frondosus Allemão) e candeia ou rabo-de-cutia (Stifftia chrysantha Mikan).


Aspecto geral da área da horta medicinal


Disposição dos canteiros para produção das plantas empregadas pela população local


Sr. Walter da Silva (especialista local) apresentando aos alunos da ENBT, sob supervisão dos pesquisadores, sua forma de reconhecimento e de uso de uma espécie de árvore
















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